segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A aparência do amor


"Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários.

Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer atos que normalmente são consequência do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato.

A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo.

Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor quando, se cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno."
[Friedrich Nietzsche]

Ah, quantos corações seriam poupados se tivéssemos consciência disso... Se assim for, que a promessa seja consciente, que os atos sejam verdadeiros e as palavras, suaves.

domingo, 19 de setembro de 2010

Você conhece o Skoob?

Descobri o Skoob (books ao contrário) há alguns meses, com a promessa de ser uma rede social voltada totalmente para amantes da leitura. Fiquei surpresa com o fato de existir uma rede voltada para leitores (como assim eu não conhecia? rs), e mais surpresa ainda (confesso) ao saber que foi desenvolvido por brasileiros, muito legal!

Eu, é claro, corri para fazer meu cadastro no site.

É, realmente, uma rede social: é possível “fazer amigos”, deixar comentários na página de outra pessoa, participar de comunidades, etc.

Mas os criadores do site brilharam mesmo por possibilitar aos usuários terem sua “estante virtual”, ou seja, você pode cadastrar livros que leu/quer ler e muito mais do que isso: é possível classificá-los de inúmeras maneiras. Isso mesmo: lidos, não lidos, abandonados, desejados, estou lendo, meta de leitura, emprestado, tenho ou não, além das formas convencionais (como o gênero, autor, nota).

Além disso, é possível fazer críticas sobre as obras, bem como registrar sua evolução de leitura no seu perfil. Se você quiser trocar algum livro, consegue descobrir quem deseja aquele livro e quem também tem interesse em troca.

Eu, que há séculos buscava um catalogador de livros, achei essa ferramenta fantástica, sobretudo por ser virtual. Digo isso porque comecei a catalogar todos os meus livros no Libra, um programa bem legal (só que com muito menos possibilidades de classificação/detalhamento que o skoob), mas na troca de PC perdi todo o meu longo trabalho.

Para mim o skoob é perfeito enquanto “estante virtual”, mas deixa a desejar quanto ao seu objetivo de ser uma rede social de leitores. Isso porque não é nada fácil (aliás, é bem difícil) localizar conhecidos no site. Senti falta de um sistema de busca mais abrangente, ou ainda que fizesse uma “conexão” com seus contatos do e-mail, algo assim.

Bem, fica a dica para aqueles que, como eu, amam ler e sempre quiseram um lugar para cadastrar os livros e trocar impressões.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você...


Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra."
(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

El mismo amor, la misma lluvia

Depois dos últimos posts sobre filme terem privilegiado o cinema francês, resolvi dar uma volta no cinema argentino, que muito tem me surpreendido também.

Pensando nisso, estava decidida a escrever sobre o filme “O segredo de seus olhos”, dirigido por Juan José Campanella e ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010.

Pesquisando mais sobre o diretor, li sobre outra obra dele, “El mismo amor, La misma lluvia” (de 1999), ou “O mesmo amor, a mesma chuva”, curiosamente protagonizado pelos mesmos atores (Ricardo Darín e Soledad Villamil) que “O segredo de seus olhos”.

Assim como um livro me ganha (à primeira vista) pela capa, um filme me ganha pelo título (ou pelas falas), e esse com certeza foi um dos casos.

Assisti a este filme hoje e, como eu esperava, não me decepcionei. Sabe-se lá o porquê, ele não foi parar nas nossas salas de cinema, foi direto para as locadoras.

Jorge (Ricardo Darín) escreve crônicas românticas para uma revista argentina. O trabalho é medíocre e não lhe permite mostrar ao público seu talento. Assim segue sua vida, em meio à conturbada década de 80 na Argentina.

Em um dia de chuva ele avista uma moça que se encanta com as gotas de chuva caindo sobre seu rosto. A moça é Laura (Soledad Villamil), garçonete, atriz e estudante de artes plásticas. Não só isso, é também a moça com quem ele se reencontra num desses muitos acasos do destino e que será, se assim posso dizer, a mulher que ele ama.

O romance dos dois resiste à Guerra das Malvinas, ao fim da ditadura e ao início do novo governo, mas não resiste a eles mesmos, ao tempo, ao desgaste da convivência. O rompimento, aqui, não significa o fim do filme, nem o ápice do enredo. Jorge e Laura não morrem de amor, nem abandonam a vontade de viver. Eles simplesmente vivem com suas dores, seus fracassos e desilusões, como a grande maioria de nós faz todos os dias.

Ao longo de quase duas décadas acompanhamos a vida desses personagens, sobretudo a de Jorge, e somos apresentados aos caminhos que escolheram seguir desde que se separaram.

Apesar de tudo, fica um ar de esperança, de amizade, de amor e a convicção de que um novo começo sempre é possível, ainda que demore, ainda que seja difícil.

O filme é precioso porque nos dá a sensação de que Laura e Jorge poderiam facilmente ser quaisquer pessoas, poderiam ser eu ou você. Como assim? A história é o cotidiano, é uma rotina. Não é como os filmes, comédias ou romances, que dão bilheteria: nos agradam e fazem rir, mas deixam aquela conhecida sensação de que na vida os amores são menos belos e menos fantasiosos que no cinema. Nesta obra o amor e a vida são o que são, sem grandes truques, sem grandes vilões, só nós mesmos.

Campanella nos mostra, da melhor forma o possível, que a arte muitas vezes imita a vida, e não há nenhum problema nisso.

domingo, 29 de agosto de 2010

Can you keep a secret?

Can you keep a Secret, ou O Segredo de Emma Corrigan, é um (ótimo) livro de Sophie Kinsella.

O livro é mais um dos muitos do gênero chick lit (opa, não pare de ler por preconceito, hein?). Como assim? Chick lit é aquele gênero de livro vulgarmente chamado de “livro de mulherzinha”. Romances leves com aquela dose certa de comédia, com finais completamente previsíveis e de fácil leitura (o que não significa que dispense qualquer tipo de reflexão, mas sim que não é aquele livro que te suga por completo, que te faz ter uma avalanche de emoções e reflexões).

Adquiri este livro em janeiro deste ano, na Livraria Cultura (da Paulista), após receber a indicação de uma garota que já lera vários livros da autora. Comprei sem relutar a versão pocket em inglês (que é muuuito mais barata que os R$50,00 cobrados pela em português. Aliás, não consigo entender porque aqui no Brasil livro é artigo de luxo).

Apesar de tê-lo comprado em janeiro, só comecei a lê-lo na última quarta (sim, dia 25/08). Mas o fato é: em determinado ponto da história eu não consegui mais largar o livro (o que, confesso, foi ligeiramente ridículo já que eu lia o livro até na aula e tinha que ficar segurando minha vontade de rir a cada nova passagem). O resultado foi que na sexta de manhã eu já acabara de lê-lo.

Mas vamos lá.

Emma Corrigan não é exatamente o que se pode chamar de uma pessoa bem-sucedida, e seus familiares adoram lembrá-la disso. Mas ela tem um namorado maravilhoso, um emprego na Panther Corp., divide um apartamento com duas amigas (Lissy e Jemima) e, como toda mulher, tem lá seus segredinhos.

Mas ela sabe que sua sorte está para mudar quando seu chefe a pede para representá-lo em uma reunião em Glasgow. Ela será promovida, Emma tem certeza.

Bem, ela seria promovida, se a reunião não tivesse sido um total fracasso.

Para piorar, ao voltar para casa, o avião em que está passa por grande turbulência e a jovem, que já tem medo de voar, tem certeza de que todos vão morrer. Desesperada e fora de si, Emma começa a falar descontroladamente com o desconhecido sentado ao seu lado e, um a um, conta todos os seu segredos a ele (quase como uma confissão, eu diria). Ela só pára ao ser interrompida pela aeromoça, informando-lhes que o avião já aterrizou.

Ao perceber o que acontecera, só uma coisa a deixa aliviada: a certeza de que ela nunca verá aquele homem que sabe tantas coisas (constrangedoras) sobre sua vida.

Na segunda-feira, ao chegar ao trabalho, Emma descobre que a empresa receberá a visita de um dos inventores da marca, Jack Harper. Quando o tão esperado visitante chega, quão grande é sua surpresa (e desespero) ao perceber que ele, o dono da companhia, é nada mais, nada menos, que o “desconhecido” do avião.

Tudo bem, à primeira vista pode não parecer o enredo mais interessante do momento, mas a maneira como a história se desenvolve, o jeito como o não mais desconhecido usa os segredos de Emma para provocá-la e até mesmo melhorar as coisas é realmente cativante.

Seja como for, bobinho ou não, o livro merece ser lido, até mesmo por mostrar, de maneira sutil e divertida, até que ponto conseguimos guardar inúmeros pequenos segredos e sustentar várias pequenas mentiras sem que isso nos torne, perante os outros, uma pessoa completamente diferente da que realmente somos.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um Domingo para Sempre


“Era uma vez cinco soldados franceses que faziam a guerra porque as coisas são assim.

O primeiro, outrora aventureiro e alegre, levava no pescoço a matrícula 2.124 de uma Junta de Recrutamento do Departamento de Seine. Nos pés tinha botas, tiradas de um alemão, e essas botas afundavam na lama, de trincheira em trincheira, pelo labirinto esquecido por Deus que levava às primeiras linhas.”

Uma coisa sempre foi certa para mim: por trás de todo bom filme há um bom livro. Então, depois de assistir a “Eterno Amor” fui logo procurar saber se o roteiro fora baseado em alguma obra literária, e não deu outra: o filme é uma (ótima) adaptação do livro “Um Domingo para Sempre”, do francês Sébastien Japrisot (editora Relume Dumará, conta com 263 páginas).

Pois bem. Com essa informação, eu, é claro, tinha que ler esse livro. E li! De início, devo dizer que duas coisas me surpreenderam:

A primeira foi a narrativa. Ela é diferente de um romance comum, mas é também diferente da narrativa que nos é apresentada no filme. Não é nada surreal, é só diferente (e, apesar de ter me surpreendido, devo dizer que eu teria me decepcionado se não tivesse encontrado essa diferença, porque a história é diferente, o usual não cabe aqui).

A segunda surpresa foi ver que o livro é tão confuso quanto o filme (o que não significa que a leitura seja difícil ou cansativa): também há uma quantidade enorme de personagens (sejam eles secundários ou não) e uma quantidade enorme de pequenos grandes detalhes. Nada que torne a história incompreensível, mas mais de uma vez me veio o pensamento: “peraí, quem é esse mesmo?” Então eu voltava várias páginas até encontrar a primeira referência que o autor fizera àquele personagem.

Pois bem, agora vamos à história.

O livro, como vocês podem perceber pelo trecho acima, começa com os mesmos cinco soldados franceses, que receberam a morte como punição por terem se automutilado. Mas não é a morte que eles recebem, ao menos não diretamente. Eles são jogados no espaço vazio que separa a trincheira francesa da alemã. Durante toda a noite do sábado, dia 07 de janeiro de 1917, e manhã de domingo, eles lutam por sua sobrevivência.

Dentre os cinco está Bleuet, como é conhecido no front de guerra, apesar de seu verdadeiro nome ser Jean e de sua querida Mathilde lhe chamar de Manech. Mathilde é a garota que caiu da escada ainda criança e nunca mais voltou a andar, mas, muito mais do que isso, é a garota que Manech ensinou a nadar, é a garota que lhe deu o primeiro beijo, é a sua garota, sua noiva.

Depois daquele dia terrível em que os cinco condenados marcharam rumo às primeiras linhas da trincheira de Bingo Crepúsculo, ela não teve mais notícias dele. Até que um ex-oficial, Esperança, procura a garota e lhe conta tudo o que sabe. Ele está morto. Mathilde não é mais noiva, é uma viúva branca.

Mas ela sempre fora daquelas poucas pessoas que se deixam levar por uma insensata esperança e um otimismo sem limites. Ela não acredita no que ouve, no que lhe contam. Começa uma investigação por contra própria para descobrir tudo relacionado a Bingo Crepúsculo. Manech pode estar morto ou vivo, mas ela precisa saber.

A narrativa acompanha Mathilde nessa busca, que dura cerca de sete anos. Ora somos informados sobre detalhes do passado dos dois enamorados, ora mergulhamos na vida de outros personagens, porque cada um dos cinco condenados guardava sua história, seus segredos, suas loucuras.

“Nessa luta desesperada da busca por uma ausência presente, desponta uma ácida crítica à burocracia e ao cinismo das autoridades militares: a burocracia é surda, a covardia é muda - e na guerra tem que ser assim.” (orelha do livro, caiu tão bem que tive que colocar aqui)

Ao final de tudo, Mathilde terá sua resposta.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sempre Clarice




"Faz de conta que ela não estava chorando por dentro - pois agora, mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver."
(Clarice Lispector)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Enquanto você dormia

Acabei de assistir a essa comédia romântica (não pela primeira vez) e me deu uma vontade enorme de escrever sobre ela.

A história é, basicamente, a seguinte: Lucy (Sandra Bullock) trabalha em uma estação de trem vendendo bilhetes. Em um de seus expedientes, ela vê um belo homem (Peter Gallagher) e (tipicamente) se apaixona à primeira vista por ele.

Poucos meses depois, esse mesmo desconhecido sofre um acidente na (então deserta) estação e cai nos trilhos do trem. Lucy o salva e, já no hospital, uma enfermeira acredita ser ela noiva dele. A família dele chega ao local e recebe, nada mais, nada menos, a notícia de que fora salvo por sua noiva. Surpresas para lá, exclamações para cá, a garota não consegue contar a eles que tudo não passou de um mal entendido.

A família, acreditando ser Lucy a futura esposa de Peter, acolhe-a imensamente bem, e a garota solitária, que perdeu os pais há tempos e não convive com os demais parentes, passa a querer, cada vez mais, fazer parte de tudo aquilo: ela já não quer contar a verdade.

A história se desenrola (com Peter em coma) e em um belo dia Lucy conhece Jack (Bill Pullman), irmão de seu “noivo”, e como já era de se esperar, ela se apaixona por ele.

O que já era complicado fica ainda mais desesperador para a garota quando Peter acorda e (é claro) não faz a mínima idéia de quem ela seja.

O fim? É claro que eu não vou contar.

Ok. Tudo bem. Talvez o filme não tenha o roteiro mais brilhante e imprevisível de todos os tempos, mas, com todos os seus lugares comuns (inerentes ao gênero), ele conseguiu ser encantador.

Seja pela garota solitária que tem como parente mais próximo seu gato, seja pelo comportamento da família de Peter, ou pelos inúmeros imprevistos e acasos que acabam por corroborar com toda a farsa, o filme é cativante (ou, como me disseram: “é água com açúcar, mas é gostoso de ver”) e realmente nos envolve sem precisar usar de todos aqueles artifícios e master exageros das comédias românticas atuais (aliás, While you were sleeping – título original – é de 1995).

Outro ponto positivo: essa é uma das poucas comédias românticas em que eu realmente ri.

Então é isso aí: se você está em casa querendo ver um bom filme do gênero, meu voto é para este.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Carta [perdida] de uma garota a ela mesma



O tempo tem me ensinado muitas coisas. Ele me ensinou que caminhar sozinha pode ser necessário às vezes e que uma vez que nos acostumamos a isso, de uma forma ou de outra, estaremos sempre sós.

Às vezes essa solidão nos é imposta por nós mesmos ao renunciarmos à companhia de alguém que estava disposto a seguir a nossa jornada conosco, sem saber que cada um tem uma jornada e que estar junto não é trilhar a jornada do outro.

Ele me ensinou também que muitas vezes não sabemos amar. Porque nos dizem que para amar precisamos nos entregar por completo a outra pessoa, mas eu não sei se consigo me entregar completamente a alguém, a não ser a mim mesma e a todas as indagações com as quais tenho, dolorosamente, traçado meu caminho.

Mais do que isso, aprendi, nesses últimos meses, que não importa quão confortável seja a prisão em que nos colocam, ou na qual, tantas vezes, colocamo-nos pelos mais diversos motivos. Essa prisão pode ser uma idéia, um lugar, um costume, uma pessoa ou um sentimento, pode ser, e geralmente é, cômoda, mas será sempre uma prisão. Não importa nada que possam me oferecer se as portas estão sempre trancadas. As portas estão sempre trancadas e meu coração precisa desesperadamente voar...

** [Alguns anos e algumas Bárbaras atrás]

Obs.: A imagem [perfeita] foi retirada do link: http://carmelly.deviantart.com/art/wonderland-come-to-us-171328836?q=boost:popular+in:photography/people/portraits+max_age:8h&qo=56

terça-feira, 29 de junho de 2010

Amor ou consequência


Muito mais do que o título em português ou até mesmo que o título original (Jeux d'enfants), o título inglês caiu como uma luva: Love me if you dare.

Sophie (Marion Cotillard, quando adulta) é uma menina de oito anos, solitária e rejeitada na escola por ser polaca. Julien (Guillaume Canet, quando adulto) também é um garoto solitário, não por sua origem, mas por sua timidez.

A vida dos dois muda quando Julien, querendo alegrar Sophie, oferece a ela sua caixinha de música, mas pergunta à garota se ela poderia emprestar-lhe a caixinha eventualmente. Ela, então, desafia-o: "Cape ou pas cape?". Ousas ou não? Começa, assim, o jogo: quem detém a pequena caixa lança ao outro um desafio, que cumprindo-o, terá a caixa para si e lançará, por sua vez, um desafio em retorno.

O jogo, de início, era uma maneira de esquecerem os problemas em casa, a vida não tão feliz que levavam. Mas o tempo passa e o jogo continua, com desafios cada vez maiores e mais maldosos: tornara-se uma maneira (não muito boa) de lidar com o que sentiam um pelo outro.

Não foram necessários nem quinze minutos de filme para que eu concluísse: “esse filme me lembra Amélie Poulain”: o mesmo estilo de coloração (meio apagadas, se entendem o que quero dizer), o narrador que nos conta a história enquanto inúmeras imagens invadem nossa vista...

Mas Amélie é a história de um amor, um amor suave, delicado, que cresce nos protagonistas na mesma medida em que eles aprendem a lidar com ele. Aqui não. Amor ou consequência é um amor louco, uma paixão desenfreada, que faz com que os protagonistas, não sabendo como lidar com ela, desafiem-se, afastem-se um do outro, provoquem-se e magoem a si próprios e aqueles que os cercam.

Apesar de não ter gostado muito do final (confesso que eu esperava e queria algo mais óbvio), e quase de ter morrido de raiva em vááárias cenas, recomendo o filme, com destaque para a atuação de Marion Cotillard, sempre cativante.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Você já twittou hoje?


Tenho certeza que grande parte de vocês (quem sabe até todos) já twittaram alguma coisa hoje. E aí, estou certa ou errada?


Se postar algo no twitter é tão fácil, por que não usar isso para mobilizar a população e tentar influenciar um pouco na política do País?


Com esse objetivo eu e um grupo de amigos começamos a twittar a seguinte frase:


@aldorebelo #codigoflorestal Que papelão, hein, Aldo? Ajudando a destruir nossas florestas!


Por quê? É o seguinte: no começo desse mês o deputado federal Aldo Rebelo apresentou ao Congresso um projeto de alteração no nosso Código Florestal. As propostas são surreais, como:

- Anistiar quem cometeu crime ambiental nos últimos 50 anos;

- Reduzir as áreas de reserva legal;

- Passar para cada Estado a competência de legislar sobre matéria ambiental;


De onde vieram essas, tem outras igualmente ruins (leia mais aqui). Nós somos contra essas mudanças. O nosso Código precisa de reformas? Sim, mas nós precisamos também de um meio-ambiente sadio, de nossas florestas preservadas. Até porque esse discurso de que não dá para um país se desenvolver e crescer sem destruir a natureza é coisa do passado.


Se você também concorda com isso, poste essa frase no seu twitter e divulgue ao seus amigos!


@aldorebelo #codigoflorestal Que papelão, hein, Aldo? Ajudando a destruir nossas florestas!


A idéia é mostrarmos ao Aldo e outros políticos que nós, cidadãos brasileiros, não queremos essas mudanças e se eles estão lá para nos representar, nossa opinião tem que valer algo!

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brönte


(depois de muito tempo, cá estou eu novamente)

Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que este livro foi uma grande decepção para mim. Não que não valha a pena lê-lo, vale sim, até por ser um clássico da literatura inglesa (que eu amo) e tudo o mais.

O que aconteceu é que, apesar de já ter visto o filme, eu busquei o livro confiante de que encontraria nele uma história de amor (ainda que com um final não feliz), mas, ao invés disso, deparei-me com a história de uma vingança doentia.

Além disso, eu havia lido TANTOS comentários positivíssimos sobre a obra que fui lê-la com muita expectativa - o que, convenhamos, nunca dá certo. (Na verdade, eu realmente vi tantas pessoas falando tão bem do livro que fiquei até me sentindo meio "et" por não ter gostado dessa forma... Penso mesmo em relê-lo daqui a algum tempo para ver se tenho outra percepção...).

Mas, vamos à história:

A trama se inicia quando o sr. Earnshaw (que habitava o Morro dos Ventos Uivantes com sua família) traz consigo, após uma viagem, um pequeno órfão, que vem a ser chamado de Heathcliff. Enquanto Catherine, filha do sr. Earnshaw, desenvolve grande carinho por Heathcliff; Hindley, irmão dela, passa a odiá-lo, pois o pai preferia o órfão a ele, que era seu “filho de verdade”.

Tempos depois, com a morte do pai, Hindley tem a oportunidade de descontar todo seu ódio em Heathcliff, transformando-o em empregado da casa e humilhando-o das mais diversas formas.

Tudo isso faz com que Cathy decida se casar com Edgar Linton, um vizinho que habitava a Granja dos Tordos, mesmo amando (e sendo amada por) Heathcliff.

Heathcliff, descobrindo os motivos pelos quais fora preterido pela amada, foge, retornando anos depois, com melhores modos, aparência e uma enorme fortuna.

Ele procura Catherine, que evidentemente ainda o ama, mas que se recusa a deixar o marido. Buscando vingar-se de Linton, Heathcliff se casa com a irmã dele, Isabella, com o único

propósito de torná-la uma criatura extremamente infeliz e de, quem sabe, vir a herdar a fortuna de Linton (pois se ele não tivesse filhos homens sua fortuna iria para a irmã).

A vida de Catherine termina com o nascimento de sua filha, que recebe seu nome.

Mas, não pensem que a história termina por aí: pelo contrário, nesse ponto chegamos à metade do livro. A outra metade trata dos ardilosos e cruéis planos de Heathcliff, que, dominado por uma sede de vingança insaciável, vinga-se de tudo e de todos, sendo que as maiores maldades recaem sobre os descendentes dos envolvidos: Cathy (filha de Catherine e Linton), Hareton (filho de Hindley) e em seu próprio filho, Linton (nome que lhe fora dado pela mãe, Isabella).

A história é narrada por Ellen Dean (governanta da Granja dos Tordos - na Inglaterra), que foi testemunha ocular de quase todos os fatos, ao sr. Locwood, inquilino do referido local.

O final? Fica por conta de vocês descobrir ; ]

Extendendo-me um pouco mais, vou falar um pouco sobre o filme:

Eu assisti a versão de 1992, com o Ralph Fiennes e a Juliette Binoche. O filme é belo, mas também decepcionante: a tentativa de simplificar muito algumas coisas acabou por deixá-las mal explicadas ou até mesmo sem qualquer explicação, dando a impressão de que algumas coisas estavam “soltas” na trama.

Após ler o livro, fiquei também decepcionada com a caracterização dos personagens no filme. Explico: o sr. Linton é descrito no livro com um homem sábio, de bom caráter e grande coração. No filme fizeram-no um bobão, que mal era capaz de expressar suas opiniões e, muito menos, de defender seus pontos de vista.

Agora, o que me deixou mais encucada foram os atores escolhidos para o papel de Heathcliff (não que não sejam bons): o filme possui ao menos quatro adaptações para o cinema e em todas elas o Heathcilff é branco, apesar de várias serem as passagens do livro que mencionam que era negro, ou, ao menos, tinha a pele bem escura (“era um cigano de pele escura” - fls. 7; “...de ser negro...” fls.34). Alguém me explica? Os outros personagens apresentam-se, ao menos fisicamente, semelhantes aos descritos no livro.

(E já que hoje eu estou crítica, alguém me explica também o Ralph Fiennes e a Juliette Binoche fazendo papel de adolescentes de 14, 15 anos?)

Enfim, em síntese:

Como eu já disse, vale a pena ler o livro, que é bom, tem alguns diálogos realmente belos e uma narrativa muito envolvente até certo ponto, a partir do qual torna-se um pouco cansativo. Na verdade, acho que a história se tornou cansativa para mim porque, a partir de um ponto, não vi mais propósito algum nas atitudes de Heathcliff.

Acho que a história poderia ter se voltado mais para Catherine (mãe) e Heathcliff (e isso talvez nos ajudasse a perceber algum significado nas atitudes dele após a morte dela), pois o que em tese era a trama principal tornou-se um pano de fundo para as vinganças desmedidas de um homem louco (pois, apesar de ter lido que o livro fala sobre “um amor que destruiu a todos que o tocaram”, não acredito que nenhum amor seria capaz de motivar o que Heathcliff faz).

Por fim, um trechinho para vocês:

“Pois o que eu digo agora, vou repetir até que minha língua paralise: Catherine Earnshaw, enquanto eu viver não descansarás em paz! Disseste que te matei. Pois então assombra-me a existência! Os assassinados costumam assombrar a vida dos seus assassinos, e eu tenho certeza de que os espíritos andam pela terra. Toma a forma que quiseres, mas vem para junto de mim e me enlouquece! Não me deixes só neste abismo onde não te encontro! Oh, Meu Deus! Como posso eu viver sem a minha vida? Como posso eu viver sem a minha alma?”

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Paradoxo do Nosso Tempo

"Nós bebemos demais, gastamos sem critérios. Dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.

Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos freqüentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar e não a esperar.

Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos cada vez menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande, de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.

Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa.

Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'."

George Carlin


terça-feira, 27 de abril de 2010

Há sempre uma hora para partir

Tennessee Williams uma vez escreveu que "há um tempo para partir, mesmo quando não há um lugar certo para ir." É assim conosco, com as pessoas que nos cercam e com a vida. Tudo tem um tempo para partir e, quando esse tempo chega, o melhor que se pode fazer é aceitar.

Não devemos, no entanto, aceitar tal partida com a resignação de quem se curva perante o tempo. Devemos, sim, aceitá-la com a ousadia de uma pessoa que, mesmo machucada pelas asas tantas vezes cortantes do tempo, ainda crê nesse futuro deliciosamente desconhecido com o qual nos deparamos vez ou outra...

Há muito aprendi que muitas vezes um sonho se acaba, mas todo o resto continua lá e outros sonhos virão. E é por isso que não podemos viver eternamente a dor dessa partida e morrer simbolicamente todos os dias por algo ou alguém que verdadeiramente já partiu.

Resta-nos, então, brindar à vida e ao fim, pois cada término pressagia um novo início, trazendo a esperança de que com o amanhã virá um começo no qual possamos acreditar.