terça-feira, 27 de abril de 2010

Há sempre uma hora para partir

Tennessee Williams uma vez escreveu que "há um tempo para partir, mesmo quando não há um lugar certo para ir." É assim conosco, com as pessoas que nos cercam e com a vida. Tudo tem um tempo para partir e, quando esse tempo chega, o melhor que se pode fazer é aceitar.

Não devemos, no entanto, aceitar tal partida com a resignação de quem se curva perante o tempo. Devemos, sim, aceitá-la com a ousadia de uma pessoa que, mesmo machucada pelas asas tantas vezes cortantes do tempo, ainda crê nesse futuro deliciosamente desconhecido com o qual nos deparamos vez ou outra...

Há muito aprendi que muitas vezes um sonho se acaba, mas todo o resto continua lá e outros sonhos virão. E é por isso que não podemos viver eternamente a dor dessa partida e morrer simbolicamente todos os dias por algo ou alguém que verdadeiramente já partiu.

Resta-nos, então, brindar à vida e ao fim, pois cada término pressagia um novo início, trazendo a esperança de que com o amanhã virá um começo no qual possamos acreditar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Que tudo seja diferente...



"Enquanto dormem as crianças, que os homens acordem, para que o Mundo seja melhor quando as crianças acordarem." (Sizuo)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O caso Nardoni: poderia não ter sido eles?


Na última semana a mídia falou, comentou, expôs, enfim, fez o que podia e não podia a respeito do caso do ano: o homicídio da criança Isabella Nardoni, supostamente cometido por seu pai, Alexandre Nardoni, e sua madrasta, Anna Carolina Jatobá.

A garotinha de apenas cinco anos teria sido esganada por ela e jogada pela janela do apartamento por seu pai.

Apesar de haver várias evidências, os advogados, pedindo a absolvição, afirmaram: não há prova concreta de que foram eles. A promotoria, por outro lado, foi taxativa: foram eles.

Após cinco dias de julgamento, da oitiva de várias testemunhas, dos réus e da mãe da vítima, o juri chegou a um veredicto: foram eles. Por volta de 00:25 da madrugada de sábado (27/03/2010), o juiz Maurício Fossen leu a sentença, que os julgou culpados pelo crime de homicídio triplamente qualificado, condenando o pai a 31 anos, 2 meses e 10 dias de prisão em regime fechado. A madrasta foi condenada a 26 anos e oito meses de reclusão. Além disso, foram também condenados, cada um, a mais oito meses de detenção, pelo crime de fraude processual.

Mas, poderia não ter sido eles? Haveria uma dúvida razoável? Ainda que houvesse, juridicamente, a possibilidade de absolvição, será que o povo, o maior julgador de todos, seria capaz de perdoá-los?

Aqui vai um exemplo: na década de 80, nos EUA, uma mãe denunciou que seu filho teria sido vítima de abuso sexual por Ray Buckey, professor em uma escola primária. O caso, que ficou conhecido como “The McMartin trial”, se desenrolou de tal maneira que centenas de novas acusações surgiram, acabando por envolver toda a família do acusado, responsável pela administração da escola em que as crianças “abusadas” estudavam. Tudo indicava que eram culpados e a mídia colaborou (e muito) para que a população os hostilizasse ainda mais. Ao final, após aproximadamente sete anos de julgamento, foram declarados inocentes de todas as acusações. Apesar de formalmente inocentes, o povo já os havia condenado, e a retaliação continuou: apesar de absolvidos, "foram extra-judicialmente" condenados.

O povo não perdoa, é fato, mas esquece. Só não o faz quando a mídia não deixa, como ocorreu nos dois casos abordados. A comoção popular foi imensa, o repúdio aos dito criminosos, também. Antes mesmo do julgamento, a mídia já decretava o veredicto: eles assassinaram a menina. E, agora, após o pronunciamento do judiciário, afirma-se: foi feita justiça.

Não digo que os Nardoni não cometeram o crime, deixo à Justiça o dever de se pronunciar definitivamente (pois a defesa recorreu da sentença) a respeito. O caso é que qualquer que seja o veredicto, eles já foram condenados pela população, e dessa condenação não cabe recurso.

(Post escrito para o blog Justiça e perdão, vale a pena passar por lá)