terça-feira, 7 de setembro de 2010

El mismo amor, la misma lluvia

Depois dos últimos posts sobre filme terem privilegiado o cinema francês, resolvi dar uma volta no cinema argentino, que muito tem me surpreendido também.

Pensando nisso, estava decidida a escrever sobre o filme “O segredo de seus olhos”, dirigido por Juan José Campanella e ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010.

Pesquisando mais sobre o diretor, li sobre outra obra dele, “El mismo amor, La misma lluvia” (de 1999), ou “O mesmo amor, a mesma chuva”, curiosamente protagonizado pelos mesmos atores (Ricardo Darín e Soledad Villamil) que “O segredo de seus olhos”.

Assim como um livro me ganha (à primeira vista) pela capa, um filme me ganha pelo título (ou pelas falas), e esse com certeza foi um dos casos.

Assisti a este filme hoje e, como eu esperava, não me decepcionei. Sabe-se lá o porquê, ele não foi parar nas nossas salas de cinema, foi direto para as locadoras.

Jorge (Ricardo Darín) escreve crônicas românticas para uma revista argentina. O trabalho é medíocre e não lhe permite mostrar ao público seu talento. Assim segue sua vida, em meio à conturbada década de 80 na Argentina.

Em um dia de chuva ele avista uma moça que se encanta com as gotas de chuva caindo sobre seu rosto. A moça é Laura (Soledad Villamil), garçonete, atriz e estudante de artes plásticas. Não só isso, é também a moça com quem ele se reencontra num desses muitos acasos do destino e que será, se assim posso dizer, a mulher que ele ama.

O romance dos dois resiste à Guerra das Malvinas, ao fim da ditadura e ao início do novo governo, mas não resiste a eles mesmos, ao tempo, ao desgaste da convivência. O rompimento, aqui, não significa o fim do filme, nem o ápice do enredo. Jorge e Laura não morrem de amor, nem abandonam a vontade de viver. Eles simplesmente vivem com suas dores, seus fracassos e desilusões, como a grande maioria de nós faz todos os dias.

Ao longo de quase duas décadas acompanhamos a vida desses personagens, sobretudo a de Jorge, e somos apresentados aos caminhos que escolheram seguir desde que se separaram.

Apesar de tudo, fica um ar de esperança, de amizade, de amor e a convicção de que um novo começo sempre é possível, ainda que demore, ainda que seja difícil.

O filme é precioso porque nos dá a sensação de que Laura e Jorge poderiam facilmente ser quaisquer pessoas, poderiam ser eu ou você. Como assim? A história é o cotidiano, é uma rotina. Não é como os filmes, comédias ou romances, que dão bilheteria: nos agradam e fazem rir, mas deixam aquela conhecida sensação de que na vida os amores são menos belos e menos fantasiosos que no cinema. Nesta obra o amor e a vida são o que são, sem grandes truques, sem grandes vilões, só nós mesmos.

Campanella nos mostra, da melhor forma o possível, que a arte muitas vezes imita a vida, e não há nenhum problema nisso.

2 comentários:

  1. Quanta ternura há nesta história. Nos últimos tempos, os filmes que realmente me encantam, são esses, que com sutileza e naturalidade afloram no nosso dia a dia. Nada mais e nada menos. Estes que relatam a nossa necessidade de amar em meio as nossas capacidades reais de ter virtudes e defeitos. Em verdade são estes os mais fantásticos! Em verdade são esses os que interferem na nossa maneira de ver e pensar o mundo. Pois nos mostram detalhes, que distraidos que somos, não vemos no corriqueirismo cotidiano que muitas vezes não nos damos ao trabalho de observar, justamente por ficarmos atentos a um mundo que trás uma perfeição que felizmente não é nossa. O Campanella é genial de tão simples que é quando faz cinema, lembro-me de como me sensibilizei com "O Filho da Noiva".

    Não desprezo de um todo histórias sensacionalistas, mas aprecio mesmo é a realidade, mesmo que sonhada em arte.

    Bárbara, um grande abraço na sua ternura de jornalista do acaso!

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  2. Muito bom, Bárbara Rubim!

    Como você tem amadurecido seus textos com frases bem encadeadas, sentimentos tão autênticos e palavras tão bem escolhidas e colocadas! Eu me orgulho sempre de você e apesar de já ter ouvido isso uma centena de vezes, no passado não tão remoto, repito com muito prazer: meu orgulho por você ainda é "gigantauro".

    Tenho uma sensação muito gostosa ao ler seus textos, pois sinto que você está sendo sincera e não tentando ser outra pessoa, como tantos outros fazem por ai. Você tem esse seu jeito de escrever, com um português perfeito, mas sem ser pedante. Tem essa força, de atrair a atenção de "quem te lê" e fazer com que o leitor confie em você, pois sabe que os caminhos por onde suas palavras levam são muito prazerosos de se caminhar. Enfim, seu jeito de escrever as coisas, Rubim, é bom demais: simples e bonito, ao mesmo tempo.

    PS: Eu não gostaria, pequena, que você me falasse nada sobre esse comentário meu. Melhor, me escreve e me deixa ler suas palavras mais uma vez, se for da sua vontade. Vou ter um prazer enorme em ler você!

    Com amor,
    Do seu amor,

    Pedro Carvalho.

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