segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Será que você não tem outro sonho por aí, não?"

"Todos nós temos nossas máquinas de tempo. Algumas nos levam de volta, elas são chamadas recordações. Algumas nos levam adiante, elas são chamadas sonhos." (Jeremy Irons)

Sabe aquela velha história de buscar seus sonhos e ser sincero? Aquela que ouvimos a vida toda? Então, pessoas em geral e a nossa família nos ensinam que devemos ser felizes e realizados, que a verdade é boa e compensa. Mas nada na (nossa) sociedade nos estimula nem ensina a fazer isso. Pelo contrário, diariamente somos colocados à beira do abismo por mostrarmos quem realmente somos e o que realmente sentimos.

Aliás, se o seu sonho é algo que vai te fazer feliz, mas que vai te deixar bem aquém daquele tradicional conceito de 'sucesso' (dinheiro+reconhecimento), todo o discurso de "vá atrás dos seus sonhos" cai por terra. A realidade seria algo mais assim: "será que você não tem outro sonho por aí, não? Esse é legal, mas, você sabe, né? Assim você nunca vai ser ninguém na vida".

E é assim, ouvindo a outra face do discurso, que abandonamos aquilo que pode nos fazer feliz para buscar o que é capaz de nos sustentar e às nossas necessidades. Confuso, sim. Mas o ponto é que sempre vai faltar algo, sempre vai haver um quê de frustração em nossos dias. Seremos felizes? Verdadeiramente felizes?

Essa história toda que constroem na nossa cabeça pode se tornar ainda pior. Somos levados a acreditar que é aquele conjunto todo de fatores que nos faz feliz (não que eles não contribuam para a nossa felicidade), de tal modo que, se perdemos um deles, sentimo-nos como as pessoas mais miseráveis do mundo. Como se, na verdade, aquilo mudasse quem você realmente é.

O ser humano é um querer constante, mas às vezes parece que nos falta coragem. Temos medo. Medo de falhar, de largar o certo pelo duvidoso, ainda que o incerto seja um milhão de vezes mais satisfatório. E, sobretudo, temos medo de decepcionar àqueles que constroem planos e ilusão sobre nós.

Dominados por esse medo, passamos a buscar algo que a sociedade considera ideal. Destinamos nossos dias e nossa vida a isso; e, então, a falta de coragem não importa mais. Porque o cotidiano, a certeza da mesmice, nos conforta. A vida mediocre pode não nos satisfazer por completo, mas também não nos incomoda.

Não estou dizendo que não há pessoas que escolheram tudo aquilo e são realmente felizes. Há sim, inúmeras. Só digo que devemos escolher o caminho que nós acreditamos que nos fará felizes, e não um que outras pessoas escolheram para nós.

Todos temos sonhos, mesmo que não queiramos admitir para os outros ou para nós mesmos. O mundo seria um lugar melhor se todas as pessoas tivessem a chance de acreditar que seus sonhos se tornarão realidade. Um ser humano que não tem nenhum sonho para si, para seu futuro, é um ser humano capaz de fazer as piores coisas, pois não há nada no amanhã que ele tema perder.

É por isso que vivemos em um mundo no qual as pessoas matam umas às outras, drogam-se e fazem coisas que nunca imaginaram fazer consigo mesmas. É tudo uma tentativa vergonhosa de preencher o vazio que sentem. Preenchê-lo com qualquer sentimento. Com qualquer coisa, material ou não. A natureza tem aversão ao vazio, e à medida em que a ocupamos e encontramos um (dito) bom lugar na sociedade, somos desocupados de nós mesmos. Nos desocupamos de nossos sonhos.

Até quando seguiremos ignorando que não só de pão vive o homem?

***
"Uma das calamidades da vida é sonhar apenas quando estivermos dormindo... O homem mais pobre não é o homem sem dinheiro: é o homem sem sonhos." (Max L. Forman)

4 comentários:

  1. "Vida louca vidaaaaa, vida breve. Já que eu não posso te levar, quero que você me leve". É assim que devemos viver, continuar a ver a lua com os olhos de Ícaro e não o de Galileu. Poesia sempre. Aceito os rótulos para ser feliz: excêntrica, estranha, diferente.... E daí? Think about this. Beijo cheio de saudades.

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  2. Sonhar é mais do que preciso, é humano.
    O meu problema mesmo é com acordar de um sonho...

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  3. Lindo texto! Estou no time de quem trocou o sonho pelo certo no âmbito profissional... o jeito é procurar a felicidade em outras esferas da vida.

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  4. Interessante o seu texto e realmente tem um paralelo com o que eu escrevi no meu blog. Quando você disse "A vida mediocre pode não nos satisfazer por completo, mas também não nos incomoda." infelizmente não disse nada além da realidade. Triste saber que mesmo sendo capazes de fazer algo por nós mesmos, geralmente não fazemos nada ou fazemos de forma diferente da que realmente queríamos fazer por conta de alguma dessas pressões que você colocou muito bem nesse post.
    Enfim, o papo é muito complexo e eu vou parar de me estender pra não soar chato.

    Valeu pelo comentário no meu blog! Vou seguir o seu e sempre vou dar uma passada por aqui pra ver como as coisas estão.

    Bjs!

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