domingo, 8 de maio de 2011

"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas...

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” [Rubem Alves]

Há alguns anos cheguei à triste conclusão de que, infelizmente, uma parcela significativa dos professores dá aula com o mero objetivo de poder passar horas a fio falando sobre seus feitos grandiosos ou tendo o prazer de se auto-afirmar, maltratando e humilhando os alunos.

Essa conclusão veio depois de quatro anos sendo aluna de alguns desses “professores”.

Durante esse tempo, percebi, ainda, que mesmo a parcela de professores que não se encaixava no perfil acima, tinha algo em comum com eles: nem uns, nem outros queriam realmente ouvir os alunos. Aliás, não só não queriam ouvir o aluno, como também não queriam que pensássemos por nós mesmos. Quantas vezes não vi um professor zerar a questão de um aluno só porque havia exposto uma linha de pensamento diferente, ainda que muito bem fundamentada?

Na verdade, bastava que soubéssemos repetir, ainda que sem entender, o que nos havia sido dito, da maneira exata como nos fora dito. Da maneira deles, não da nossa maneira. Isso mesmo, sem pensar, sem refletir, sem compreender verdadeiramente.

Em todos esses anos, não me lembro de quase nenhum professor que se preocupasse em saber o que pensávamos, seja sobre as aulas, conteúdo, vida acadêmica, profissão, nada.

Não digo que não aprendemos nada com esses professores, justiça seja feita, aprendemos sim. Mas me chateia pensar que poderíamos ter aprendido muito mais, talvez não sobre a matéria, mas sobre a vida, sobre como tratar as pessoas. E eles também poderiam ter aprendido muito conosco também, não por sermos alunos, mas por sermos pessoas. Todos têm algo para oferecer e me parece que todos temos perdido as lições mais valiosas.

Mas então, como sempre acontece na vida, ocorreu o inesperado.

É isso mesmo! Na última quinta-feira aconteceu uma coisa inédita em meus quatro anos de faculdade: durante todo um horário, um professor se colocou à disposição para ouvir o que os alunos tinham a dizer.

Para o espanto (ou talvez não) do professor, a turma ficou praticamente em silêncio. Inclusive eu, que nunca pensei que isso fosse acontecer, que a oportunidade fosse nos ser dada.

Eu, que reclamava tanto, quando tive a oportunidade de falar, fiquei calada. Mas meu silêncio não foi, talvez, como o de meus colegas. Fiquei calada por, de certa forma, ter sido ouvida antes. E era, estranhamente, um silêncio feliz, porque eu sabia que se falasse, seria ouvida.

Então é isso, talvez este post não tenha tido um objetivo claro. Mas talvez seja um desejo traduzido em palavras, de que nossas universidades e escolas, aos poucos, aprendam a abrir a porta das gaiolas e transformem-se em asas.

2 comentários:

  1. Foi bom vc ter destacado essa realidade.

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  2. O ensino que nos prende e recrimina é como travas que se envolvem e nos impedem de crescer.Há professores,que se esquecem de exercer o papel de um educador,estão simplesmente alimentando o "status" dentro da sala de aula.Imagino que quando um aluno é constrangido perante seus colegas pode superar e levar para a sua vida um exemplo a não ser seguido,mas por outro lado,penso que pessoas podem sofrer com atitudes discriminatórias pelo resto d sua vida.Isso é muito sério.A escola deve ser literalmente uma instituição de ensino e,não de destruição.Os professores podem sim,destruir sonhos e,não se dão conta disso.O conhecimento é uma arma muito poderosa,como bem dizia Weber,é o meio de alienação intelectual.
    Dentro da sala existem vidas que precisam ser ouvidas.Dentro da sala existem pessoas,sonhos,desejos, perspectivas,tristezas,esperanças, PATOLOGIAS.As informações são sempre trocadas,a falha é o sentimento de superioridade.Precisamos reforçar nossas asas para nos libertamos dessas gaiolas e voarmos para um mundo das idéias.

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