
No post passado escrevi sobre um dos melhores filmes que vi este ano, neste post, escrevo sobre um livro que, com toda certeza, merece ser lido.
Apesar de já “conhecer” Lya Luft por meio de seus artigos, este foi o primeiro livro dela que li.
A leitura é fácil, mas o livro não é para qualquer momento, se é que me entendem. Algo me lembrou um pouco o jeito de Clarice Lispector, não sei se foi a escrita, mais provável que tenha sido a reação que me causou.
O livro, que conta com 159 páginas, foi lançado em 2008 e é composto por 20 contos, que se aproximam pela temática: conflitos familiares, incompreensão, mágoas que nunca nos deixam... Tudo isso agravado (e até mesmo causado) pela falta de comunicação e de sinceridade entre as pessoas que se amam.
A impressão que tive é de que há uma certa progressão entre os contos... Algumas das histórias versam sobre pequenas coisas não ditas, vontades não compreendidas, sentimentos não compartilhados pelo amante (em sentido amplo), coisas insignificantes e invisíveis para a outra pessoa, mas de grande valor para quem as vivencia.
Na medida em que avançamos na leitura dos contos, os personagens passam a calar coisas maiores, um par de asas que nasceu em um, uma ou outra coisa estranha que o outro viu. Como se a autora quisesse nos mostrar que, com o tempo, até mesmo o inimaginável, o extraordinário, aquilo que nunca esconderíamos de quem amamos, torna-se segredo, secreto.
Não importa qual a dimensão do que foi ocultado, no final há a solidão e a liberdade, que vem nas mais diferentes formas, mas nunca sem que aquela pessoa, para a qual não foi dada a oportunidade de saber, sofra.
Perde-se a intimidade, a vontade de compartilhar com o outro o que somos (o que não significa abrir mão da nossa individualidade), silenciamos em nós tudo o que sentimos e passamos. O silêncio, uma vez permitido, cresce.
"Sem que eu soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, com o branco dos olhos reluzindo na penumbra.
Se eu interrogava, o que você tem amor? Ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele acordo sem palavras.
Nunca imaginei o mal que o roía."
"Porque em tantos anos, tantos acomodamentos, tantas pequenas brigas e tantas descobertas em comum, os filhos, as férias, as doenças e as alegrias, e as contas a pagar, a gente nunca falou no mais importante - que eu agora não tenho mais como saber."
(Trechos do livro "O Silêncio dos Amantes", de Lya Luft)
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